Sua empresa é realmente inclusiva?

Texto originalmente feito para o blog “Tudo bem ser diferente.


Certa vez, ainda adolescente ouvi rumores de uma reinvindicação do movimento negro sobre a ausência de modelos negras em propagandas. Naquela época não tínhamos a internet na configuração atual, portanto o pedido não teve a mesma força que os clamores de hoje em dia.

A propaganda vivia tempos de glamour, onde possuía em mãos os desejos do seu público, obtidos por meio de pesquisas e mais pesquisas. A comunicação fluía em uma via de mão única.

Porém a internet lentamente mudou os cursos desse fluxo de ideias, o público antes um receptor silencioso, tornou-se também emissor e gerador de conteúdo. As redes sociais reuniram pessoas com gostos e pensamentos parecidos em gigantescas tribos virtuais capazes de mudar não apenas o rosto da modelo no shampoo, como também derrubar governos.

Não demorou muito para empresas se posicionarem, algumas mantendo-se presas ao passado e aos antigos planejamentos. Enquanto outras tentavam seguir o curso das mudanças. Atentos ao comportamento e tipos de interação, analistas de mídias sociais elaboravam estratégias de posicionamento alinhadas ao seu público alvo. Surgem assim, as empresas com responsabilidade social ou com discursos “politicamente corretos”.

O ponto positivo dessa nova fase foi a conquista da representatividade social em espaços antes não explorados pelo grupo de pessoas fora dos padrões normativos de corpo, sexo e raça. A presença de indivíduos inseridos a esses grupos colaborou para a formação de uma identidade social, essencial para formação de uma sociedade diversa capaz de atender e respeitar o direito de todos.

Ilustração com fundo roxo. várias pessoas seguram uma peça azul em direção ao centro, formando um globo. À esquerda, no rodapé, tem uma mulher branca de cabelo preto, camiseta listrada e calça amarela. À direita, no centro, está um homem negro cadeirante com camiseta cinza e calça vermelha.
Arte Google Design

Entretanto, faz-se necessário observar a veracidade do discurso de algumas empresas. No desejo de mostrar-se conectada aos anseios do público, muitas deslizaram (e ainda deslizam) em seus discursos sociais, caindo no julgamento virtual quando tem seus erros descobertos. Empresas de roupas que escondem a escravidão na produção de suas peças, são um dos exemplos mais comuns nas redes sociais.

Várias marcas aderiram o uso de descrição em suas postagens nas redes sociais, como uma das maneiras de se mostrar politicamente alinhada as novas demandas. Porém, ao observarmos sua timeline notamos uma permanência do padrão corporal, uma vez que na maioria dos casos não há pessoas com deficiência.

Não me parece coerente o discurso inclusivo nestes casos. A acessibilidade deve ser universal, ou seja, capaz de atender a todos, por esse motivo todos os setores de uma empresa devem estar alinhados a um posicionamento com respeito às diferenças. A presença de alguém com deficiência não deveria ser um fator especial, mas parte de seu cotidiano seja com funcionários, seja com clientes.

Para alcançar este ponto ainda é preciso a mobilização de pessoas com deficiência, reivindicando seu direito de frequentar espaços, de ser atendido de acordo com suas especificidades (veja que não menciono necessidade, pois compreendo que todos independente de deficiência precisamos de alguma coisa, contudo cada um de nós possui algo específico que nos diferencia) e encontrar produtos/serviços pensados para nós.

Diversos movimentos permanecem em vigilância, pois a conquista de direitos para minorias caminha em uma corda bamba. Até se tornar um comportamento social estrutural é preciso observar o motivo de uma empresa adotar novos valores e observar se as intenções fazem parte de uma nova cultura ou apenas uma estratégia de mercado.

A diferença entre ambos é tênue, amigues. Por isso, navegai e vigiai.

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