Já falamos aqui sobre a necessidade de pautas anticapacitistas nas discussões feministas, para visibilizar a vida de diversas mulheres com deficiência que também é impacta pelas opressões do patriarcado. Como bem reforça a autora Rosemarie Garland Thomson, a forma que a sociedade encara a deficiência está relacionada com o contexto e a cultura em que vivemos. Por isso, sempre dizemos que existem modos específicos para pensar e discutir questões que afetam a vivência de uma pessoa com deficiência.
O modelo biomédico, por exemplo, entende a deficiência só como uma lesão, impedimentos físicos, sensoriais e intelectuais: é o resultado de uma disfunção de em alguma parte do corpo. Assim, a deficiência é analisada como incapacidade: precisa ser “consertada” com intervenções médicas para que a pessoa com deficiência alcance a “normalidade”. [1]
Ou seja, esse modelo biomédico desconsidera todo o contexto social da pessoa com deficiência, focando exclusivamente na biologia e no corpo. Porém, quando observamos as barreiras arquitetônicas, de transporte, comunicacionais e reprodução de atitudes capacitistas (preconceito contra pessoas com deficiência) vemos como esses contextos sociais são responsáveis por dificultar a inserção das pessoas com deficiência na sociedade.[2]

Feminismo e deficiência: uma relação necessária!
Assim, “nasceu” o modelo social. Com a proposta de considerar o contexto social e psicológico da pessoa com deficiência, esse modelo foi assimilando novas ideias a partir dos estudos da deficiência e feministas.
Entretanto, como a experiência de ser uma mulher com deficiência que, ora desempenha o papel de cuidadora, ora de mãe, é única as pesquisas feministas envolviam temas que relacionavam a deficiência com gênero, dependência, interdependência, cuidados e dor provocadas por lesões. [3]
Sempre reforço em minhas falas que ao falarmos de deficiência é preciso pensar em DEFICIÊNCIAS. Ou seja, existem diferentes tipos de experiências que nos diferenciam, ainda que sejamos afetados pelos mesmos obstáculos sociais. Mesmo se todas as barreiras físicas, culturais e sociais fossem eliminadas, nem todos poderiam usufruir de plena autonomia e independência.
Conquistas já alcançadas!
O modelo social permitiu avanços legais que transformaram a vida das pessoas com deficiência, mas essa conversa vai ficar para o próximo texto. Ok? 😉
*Colaboração de Felipe Gruetzmacher
Nascido em 02/12/1988, é um eterno idealista. Acredita no potencial transformador da literatura. É um otimista nato, gosta de apoiar pessoas e é um romântico incorrigível. Por conta desse amor pelas letras, virou um copywriter: um especialista em comunicação, persuasão e marketing.
Referências: GESSER, Marivete; GOMES, Ruthie Bonan; LOPES, Marivete; TONELI, Maria Juracy Filgueiras. Novos diálogos dos estudos feministas da deficiência. Scielo, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/c7sJxYbSppg9kQMNvwvN6fh/?lang=pt . Acesso 22 de julho de 2022.
[1] (Débora DINIZ, 2007; Marivete GESSER; Adriano NUERNBERG; Maria Juraci TONELI, 2012).
[2](Sueli DIAS; Maria OLIVEIRA, 2013)
[3](DINIZ, 2007).