Nós também compramos brusinhas!

Ainda me lembro das aulas de criação publicitária sobre adequação de público para minimizar os erros em uma campanha. A regra é bem simples, antes de iniciar uma campanha é preciso saber para quem falamos, portanto fazemos uma boa pesquisa de mercado afim de compreender melhor o comportamento do consumidor em todas as suas nuances. Depois de conseguir esses dados é que iniciamos o processo criativo.

Pode parecer novidade para alguns, mas a realidade é que tudo o que somos ou fazemos se transformam em informações de mercado. Com as redes sociais ficou ainda mais fácil entender nossos pensamentos, emoções e desejos. Aliás, os algoritmos fazem isso muito bem.

Mas o que toda essa história tem a ver com pessoas com deficiência? Você deve estar se perguntando. Para responder essa dúvida, vamos fazer um exercício. Pare e pense nos seus produtos favoritos. Pode ser qualquer estilo ou marca. Agora pense na propaganda destes produtos, se não lembrar pega alguma que mais gosta.

Pensou? Agora me responda: em quantas destas propagandas tinha alguém com deficiência?

O público invisível

Para não ser totalmente pessimista, vou considerar que sua resposta seja 1 ou 2 campanhas. Porque bem sabemos que a grande maioria não possui alguém com deficiência no seu elenco se a temática não for assistencialista, e infelizmente isso diz muito sobre como a sociedade entende os papéis sociais destinados a nós, pessoas com deficiência.

Apesar de muitos trabalharem, serem economicamente ativos, a verdade é que muitas empresas ainda não entenderam nosso potencial como consumidor.

Nosso dinheiro também tem valor

Vivemos em um sistema capitalista, por mais triste que seja, precisamos comprar coisas para usá-las. Na maioria das vezes somos estimulados a este consumo, isso é fato. Estamos inseridos no mecanismo “demanda-compra”, ainda que sejamos invisíveis na publicidade, lá estamos movimentando o mercado comprando itens para nosso bem estar ou, quem sabe, algumas brusinhas fofas que vemos por aí.

Seguindo uma lógica capitalista, estar presente na publicidade não é apenas suprir um desejo de compra, mas reafirmar sua presença na sociedade. O mesmo vale para televisão, seriados, filmes, livros e arte. Ocupar as ruas é fundamental, porém ocupar os meios de comunicação mais ainda. O movimento negro lutou para que as empresas oferecessem produtos específicos para sua pele e cabelos, o movimento feminista buscou por representações femininas além do estereótipo “do lar”.

Por esse motivo, a estratégia que nós, pessoas com deficiência do mundo inteiro, estamos usando é cobrar nossa representação nas marcas, produtos e campanhas através das redes sociais.

Lentamente, a pressão tem dado certo. Aos poucos vemos casos como o de Kate Grant, modelo com Síndrome de Down, que foi o rosto da Benefit Cosmetics para promover o novo delineador da marca.

#pratodosverem Print do perfil da Benefit Cosmetics no instagram onde aparece a modelo Kate Grant segurando um delineador da marca. Ela tem síndrome de Down, é loira e está usando uma blusa de frio preta com pintinhas brancas. Ela está com uma expressão de felicidade enquanto olha para cima. Fim da descrição.
#pratodosverem Print do perfil da Benefit Cosmetics no instagram onde aparece a modelo Kate Grant segurando um delineador da marca. Ela tem síndrome de Down, é loira e está usando uma blusa de frio preta com pintinhas brancas. Ela está com uma expressão de felicidade enquanto olha para cima. Fim da descrição.

No Brasil, algumas empresas buscam desenvolver uma comunicação inclusiva, como o caso da 65|10 que desenvolveu um banco de imagens super legal com modelos diversas disponível para compra no site da Adobe, como também o projeto Meu corpo é real da Michele Simões que realiza consultorias e workshops para discutir os meios de construir uma moda inclusiva.

A Getty Images, site de banco de imagens para campanhas, oferece agora opções de fotografias onde as pessoas com deficiência realizam atividades cotidianas, numa tentativa de aproximar da realidade de como vivemos nossas vidas.

#pratodosverem Na foto, uma mulher gorda usando biquíni azul com as bordas pretas está sentada na beira da piscina, amputada ela bate um dos pés na água, enquanto aproveita o sol usando óculos escuro. Sua expressão facial é de relaxamento. Uma faixa cinza com o nome “Gettyimagens e os dados da autoria da imagem ocupam uma pequena parte ao lado direito. Fim da descrição.
#pratodosverem Na foto, um rapaz negro de óculos preto, usando prótese em uma das pernas, está sentado olhando para a tela do celular. Ele está usando uma camiseta azul escuro, bermuda azul e um suspensório azul, enquanto encosta seu braço em uma mesa de cafeteria na calçada. Uma faixa cinza com o nome “Gettyimagens e os dados da autoria da imagem ocupam uma pequena parte ao lado direito. Fim da descrição.

Quando as empresas entenderem o potencial de consumo das pessoas com deficiência, aí sim veremos campanhas com mais diversidade. Até lá, se faça presente, ainda que virtualmente. Comece a solicitar que sua marca tenha pessoas com deficiência nas campanhas, exija espaços que facilitem sua compra, não abra mão de seu direito de ser visto.

Agora me responda: como você gostaria de ser representada (o) nas propagandas? Deixe seu comentário e vamos debater sobre isso. 😉


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