Você chegou aqui e não faz ideia de quem eu sou. Está certo, não te culpo por isso!
Olá! Eu sou a Ieska (com “i”!) e a Fatine me convidou para essa pequena invasão no mês de janeiro. Começamos falando do Instituto Inhotim e pode ser que você encontre mais sentido nisso tudo se começar pela parte 1 desse relato.
Pronto? Então sigamos 🙂
A verdade é uma só: eu não queria sair da Galeria Psicoativa. Nossa motorista perguntou qual era o próximo destino e eu respondi um sincero “qualquer lugar que você quiser me levar, moça”, já que, depois do que eu tinha acabado de viver (incluindo as trilhas de ida e volta pelo meio do mato, lógico), eu me esqueci totalmente do que mais eu queria ver ali.
Analisamos o mapa e decidimos ir à Galeria do Cildo Meireles e é aí que entra, mais uma vez, a simpatia e a disponibilidade do pessoal do Instituto. Não fosse a dica da nossa motorista, eu não teria visto duas obras que eu estava louca para ver: Elevazione, de Giuseppe Penone, e Beam Drop Inhotim, de Chris Burden. Ambas ficam a céu aberto, no caminho entre galerias, e a moça foi muito gentil nos levando até bem pertinho delas e ainda manobrando o carrinho para que eu pudesse fazer as fotos nos melhores ângulos possíveis.
Galeria Cildo Meireles
Nosso último destino com o carrinho privado foi a Galeria Cildo Meireles, pois eu estava doida para experimentar a obra “Desvio para o vermelho”, tanto que eu nem sabia que ela não era a única da galeria e tive mais duas ótimas surpresas chegando lá!
Começamos pela “Glove Trotter”, uma sala escura cujo piso é coberto por bolas dos mais diversos tamanhos sob uma manta de aço. Maravilhosa! Passamos um tempão nessa obra, porque, veja bem, a primeira palavra que eu falei quando era bebê foi “bola” (palavras da minha mãe, não minhas palavras!!!), então, é, o tema da obra me atraiu bastante.
Uma coisa muito legal foi percebermos, mais uma vez, as diferentes visões de cada um sobre uma obra. Eu e meu padrasto batizamos esta de “mundo da bola”. A primeira foto eu que tirei, de cima para baixo, como se eu estivesse vendo esse planeta de uma espaçonave (o efeito da câmera até dá a entender que temos estrelas nesse “céu” escuro!). A segunda, ele tirou, abaixado, como se tivesse aterrissado no planeta e fizesse parte dele. Acho que essas são minhas duas fotos preferidas de todo o passeio!

Legenda: Cildo Meireles, “Glove Trotter”, 1991. Foto feita por mim.
Descrição: A manta de aço é prateada, iluminada por luzes brancas, dando um aspecto lunar à obra. É possível ver a forma de bolas de diversos tamanhos, dispostas por todo o chão.

Cildo Meireles, “Glove Trotter”, 1991. Foto feita pelo meu padrasto.
Descrição: Por ser tirada de um ângulo mais baixo, a iluminação está mais forte e é possível ver o contorno das bolas sobre o fundo preto das paredes, dando um aspecto de diversas montanhas.
Depois, chegamos ao que eu tanto queria: a sala vermelha repleta de informação vermelha e sentimento vermelho. Objetos fascinantes, uma bagunça perfeitamente orquestrada. Eu amei demais essa instalação. Não vou mostrar tudo dela porque vocês tem que ir!

Legenda: Cildo Meireles, “Desvio para o vermelho”, 1967-1984.
Descrição: Foto tirada no espelho de um armário. Estou ao centro, em minha cadeira de rodas, sorrindo. Ao fundo, as paredes brancas da galeria apinhadas de objetos vermelhos, nos mais diversos tons, como quadros, móveis e todo tipo de objeto do cotidiano. O piso também é vermelho.
Por fim, fomos para “Através”, o chão de vidro. Nessa eu não entrei, por motivos puramente logísticos: meus pneus infláveis não sobreviveriam, rs, mas fiz meus acompanhantes entrarem para eu escutar o som dos cacos. Não basta ser família, tem que participar, né?
O som da Terra
Inhotim é gigante e, em condições “padrão”, já é preciso saber priorizar, porque é impossível ver tudo em um dia só. A essa altura estávamos há cerca de três horas em Inhotim e, com aquele tanto de “sacolejos”, meu corpo já pedia arrego, então era hora de escolher como encerrar o passeio. Algumas das obras que eu queria conhecer estavam em manutenção no dia, assim, a escolhida foi a brilhante “Sonic Pavilion”, de Doug Aitken.

Legenda: Doug Aitken, “Sonic Pavilion”, 2009. Nossos pezinhos em volta do som da terra
Descrição: À esquerda, meu tênis cor de vinho no apoio de pés da cadeira de rodas. Acima, os tênis pretos do meu padrasto e, abaixo, os tênis azuis claro com cadarços roxos de minha mãe. Estamos cercando um buraco com borda de metal no chão, que é um carpete de madeira.
Eu sou muito ligada à música e a sons de modo geral. Não à toa, essa foi a minha obra favorita junto com o “Forty Part Motet”. Fiquei assim, pertinho dessa abertura no chão escutando a voz que o nosso planeta tem a 200 metros de profundidade. Depois me afastei dele, fechei os olhos e só voltei pro “mundo real” quando me cutucaram para irmos embora. Que experiência!
Despedida… de volta para a favorita
Decidimos voltar para onde começamos, já que aquela obra não saía da nossa cabeça. Ao contrário da primeira vez, onde eu só fiquei parada no centro da sala, dessa vez escolhi rodar pelas caixas de som e parar logo abaixo de uma delas. Estando sentada na minha cadeira, ouvindo o som de baixo para cima, minha sensação era de estar mergulhada em um mar de música. Talvez quem ouça essas vozes em pé, à mesma altura da caixa, tenha uma sensação diferente, e eu acho esse tipo de diversidade simplesmente fantástico! No fim, entre primeira e segunda visitas, passamos cerca de meia hora só na instalação do “Forty Part Motet”.
Valeu?
Muito mais do que eu consigo expressar! Inhotim não é passeio só para quem gosta de arte. Você só precisa gostar de andar por um lugar belíssimo, repleto de plantas, flores, árvores, pavilhões e esculturas interessantes.
Penso que o carrinho foi providencial para o melhor aproveitamento do nosso tempo. Com a cadeira de rodas manual, seria bem cruel tanto para mim pelo piso acidentado quanto pela minha família, que precisaria me levar por todas as subidas e descidas. Também não teria chegado a todos os pontos que cheguei.
Talvez com uma cadeira motorizada seja possível maior autonomia, mas ainda sim recomendo o uso do carrinho e a visita fora da alta temporada, para que o atendimento seja tão diferenciado quanto o que eu tive.
Inhotim pode ser mais acessível do que é, com certeza – uma pequena faixa de asfalto pelas ruas de pedra não prejudicaria a paisagem e ajudaria muito a nossa circulação-, mas, como eu comentei no começo, ele já pratica o tipo de acessibilidade que considero mais importante: a acessibilidade atitudinal.
Saí de lá com o sentimento de que quero voltar mais quantas vezes forem possíveis, para conhecer e revisitar cada cantinho desse espaço inspirador – aceito convites, alô, Inhotim, me chama para resenhar toda a acessibilidade do Instituto, haha!
Assim, no fim das contas, apesar dos problemas que conhecemos muito bem, esse é um lugar que vale muito a pena.
Concorda? Discorda? Conhece Inhotim e teve uma experiência diferente? Conta para a Fati e para mim nos comentários do post e até a próxima aventura acessível! 🙂
Ieska é redatora, microempresária, ariana com lua em leão e tia de duas fofurinhas. Tem atrofia muscular espinhal e cinéfila sim ou com certeza?