Por Ieska Tubaldini
Como a gente faz quando invade o blog da amiga? Acho que devo me apresentar, né? Isso, tudo bem.
Oi, pessoal! Tudo bem? Feliz ano novo! Muito prazer, eu sou a Ieska (com “i”!) 🙂
Em setembro de 2018 eu realizei um desejo de um tempão: ir para BH conhecer a mulher maravilhosa que criou esse blog e que, muito gentilmente, topou essa minha invasão. Então vamos começar? Decidi seguir a ordem cronológica da minha aventura mineira, por isso hoje vou falar sobre minha visita ao Instituto Inhotim. Nós optamos por dividir esse post em duas partes porque, veja bem, pelo jeito eu falei demais sobre esse lugar incrível, rs.
Inhotim é acessível?
Bom… Depende do que você entende por acessível?
A verdade é que, considerando todo o contexto de Inhotim – um lugar construído para lazer do proprietário, quase um templo particular de arte, em uma cidade pequena do interior de Minas, que antes sequer tinha pretensão de ser aberto ao público -, ele quase é o mais acessível para cadeira de rodas que pode ser. Sim, quase.
Inhotim conta com o que eu, pelo menos, considero o pilar principal da acessibilidade: pessoal treinado e muito disposto a fazer com que a experiência da pessoa com mobilidade reduzida seja a melhor possível.
Ao chegar com a minha família (nunca siga o caminho mais rápido proposto pelo seu gps, ele vai te mandar para uma estrada de terra e, sabemos, nada poderia ser mais terrível para nossas colunas), não precisamos sequer buscar ajuda antes de um funcionário surgir com um carrinho (daqueles de golfe que, tenho certeza, você também sempre quis usar) para nos levar até a recepção do instituto.
Cadeirante chegando em Inhotim
Eu poderia inserir uma foto da minha chegada em Inhotim, mas ela não foi exatamente bonita ou confortável, rs.
O piso é de pedra, um pouco melhor do que paralelepípedos, mas não tanto. O carrinho de transporte não conta com equipamento de segurança para travar a cadeira de rodas nele (ponto bastante negativo, que pode ser melhorado) e a minha cadeira de rodas também não tem cinto de segurança, então eu basicamente fiz o caminho me segurando, sendo segurada pelo meu padrasto e, confesso, só não me importando muito com isso, porque estar em Inhotim era um sonho e a gente fica um pouco passional nessas horas.
Ao chegar na recepção, fomos recebidos por funcionários muito simpáticos e muito, muito aptos mesmo a nos ajudar. Tomamos conhecimento que pessoas com mobilidade reduzida (desde cadeirantes até idosos) tem direito a 50 minutos de carrinho à sua disposição e, depois, podem fazer uso gratuito de todos os carrinhos que circulam pelo parque em rotas pré-determinadas, como se fossem linhas de ônibus.
Esse serviço é, geralmente, pago – o carrinho privado, com o motorista à disposição, para 5 pessoas custa R$ 500/diária ou R$ 200 por hora, enquanto os que circulam pelo parque custam R$ 30 por pessoa (você recebe uma pulseira na entrada e ela te dá o direito de pegar o carrinho a qualquer momento e ir para onde ele estiver indo). Você encontra todas as informações sobre isso aqui.
Como eu + um acompanhante tínhamos a gratuidade dos carrinhos com rotas pré-determinadas e estávamos em três pessoas, pagamos R$ 30 para a terceira pessoa e todos tivemos acesso ao serviço.
Nos foi explicado que nem todos os carrinhos tinham espaço para a cadeira de rodas e que iríamos depender disso durante nosso passeio, mas constatamos, no fim, que boa vontade não faltava e que bastava pedir para qualquer funcionário do parque um carrinho acessível que logo aparecia um para nos levar onde quiséssemos.
Importante: nós fomos em uma quinta-feira, fora da alta temporada, quando o parque está bem menos cheio do que costuma, então com certeza esse tipo de disponibilidade aconteceu por causa disso. Em dias mais cheios ou nas férias pode ser que as coisas sejam um pouco mais complicadas.
O presente de boas-vindas
Você gosta muito, muito mesmo de futebol e certamente não está esperando qualquer referência a ele dentro de um museu de arte, até que entra pela primeira porta que este museu te oferece (a Galeria Praça) e… dá de cara com um estádio para 1 milhão de pessoas. Inacreditável, né? Pois foi isso que aconteceu.
É preciso subir por uma rampa de madeira e nós fizemos isso sem a menor ideia do que havia lá em cima. Quase comecei a chorar quando chegamos e eu entendi o que era aquilo. Nessa foto vocês conseguem ter uma ideia do tamanho dessa “maquete”, pelo comparativo com a pessoa que está ao fundo.

Legenda: Paul Pfeiffer, “Vitruvian Figure”, 2008
Descrição: Maquete de um estádio de futebol circular, na qual constam incontáveis cadeirinhas azuis na arquibancada. É possível ter ideia da dimensão da maquete pelas pernas de uma pessoa, ao fundo, que ocupam o espaço de um único bloco de cadeiras. A foto foi tirada de cima, buscando dar a ideia da profundidade da maquete.
Saindo dessa sala e já pensando que minha vinda já tinha valido a pena, entramos na sala ao lado e… bam, mais um momento mágico: um coral de caixas de som, onde cada caixa reproduz a voz de um integrante do coral da Catedral de Salisbury, Inglaterra. Magnânimo. Você encontra muitas resenhas sobre o que é essa obra e todas as outras que eu vou mencionar aqui. Eu não quero ser repetitiva, nem sou entendedora suficiente de arte, só gosto muito de estar em contato com ela, então vou só me ater ao meu sentimento geral sobre tudo o que vi e, é claro, sobre a acessibilidade de todo o passeio.

Legenda: Janet Cardiff, “Forty Part Motet”, 2001. Tirei essa foto em um dos poucos momentos que me mantive de olhos abertos/existindo nessa dimensão.
Descrição: À esquerda, o meu rosto. Estou sorrindo e olhando para o lado, em direção às caixas de som que estão à direita. É possível ver três das caixas, dispostas lado a lado, sobre pedestais.
Pegamos o carrinho e… moça, por favor, me leva pra ver o Tunga!
Nossa motorista particular para a primeira hora de visita sugeriu que fizéssemos uso do serviço para visitar as galerias de arte mais isoladas ou de difícil acesso. Essa dica foi fundamental, pois eu descobri que a galeria que eu mais queria conhecer seria impossível de acessar a pé – ela é, literalmente, no meio do mato.
A Galeria Psicoativa do Tunga era com certeza um dos principais motivos que me levaram a Inhotim e a minha experiência nela já começou no caminho. Uma cadeirante não costuma ter chance de se ver embrenhada em uma trilha de difícil acesso, eu mesmo nunca tive a expectativa de viver esse tipo de aventura, mas foi exatamente o que aconteceu para chegarmos a essa galeria.
Cheguei completamente quebrada? Cheguei. Mas já estava muito empolgada pela experiência nova? Estava, sim!
Depois de chegar na galeria, ela é 100% acessível para circularmos pelos três pisos. São rampas de madeira bastante amplas e não tão íngremes, de modo que eu, pelo menos, não encontrei qualquer dificuldade e rodei por toda a galeria.

Legenda: Tunga, “A luz de dois mundos”, 2010. Essa obra já esteve até no Museu do Louvre, em Paris, e certamente é a minha preferida dessa galeria.
Descrição: Neste detalhe da obra, é possível ver um enorme esqueleto humano, preto e dourado, deitado sobre uma rede e suspenso a, estimo, cerca de 2 a 3 metros de altura.
Dica: visitar essa galeria, especialmente, é uma experiência incrível se você estiver em um grupo de pessoas muito diferentes entre si. Eu, minha mãe e meu padrasto não poderíamos ser mais diferentes em relação ao gosto pelos diversos estilos de arte, então tivemos conversas e trocamos comentários MUITO legais mediante as obras de Tunga. Cada um escolheu um jeito de interagir e de sentir as obras. Rimos muito um do outro e, sinceramente, acho um saco quem acha ruim de pessoas que fazem piadas e interpretações diferentes da original, rs.
Saindo de Tunga, duas gratas surpresas… que você vai conhecer na parte 2 desse relato. Aguarde! 😉
Ieska é redatora, microempresária, ariana com lua em leão e tia de duas fofurinhas. Tem atrofia muscular espinhal e cinéfila sim ou com certeza?
Um comentário em “Inhotim para cadeirantes”