Qual é a medida da deficiência?

Descrição: Manoella está sentada em frente a um espaço com árvores e grandes folhas verdes no chão. ela é branca, possui cabelo preto, curto, liso e com uma franja caindo no lado esquerdo do rosto. Usa óculos de armação vermelha e redonda. Tem um sorriso aberto, divertindo-se com a situação. Está usando uma blusa de manga longa rosa, com a gola aberta permitindo ver a alça preta do sutiã. Fim da descrição.

O texto de hoje é de autoria desta mocinha risonha chamada Manoella Back. Jornalista de esquerda e com deficiência me chamou na página do Disbuga pedindo um espaço para divulgar seus pensamentos, como negar? Ao ler o texto e pensando neste contato só pude sentir gratidão em ver como as pessoas tem abraçado o espaço que estou tentando construir com o blog. Deixo, desde já, o agradecimento pela confiança, por sentir-se em casa com o Disbuga e fica o convite para todos aqueles que quiserem ver suas ideias espalhadas aqui. Quanto mais disbugados no mundo, melhor.

Com você, nossa disbugada do dia: Manoella Back.


Alerta de figura com textão!

Muita gente enche a boca para dizer “como o mundo foi generoso comigo por ter deficiência leve” ou “como eu sei lidar muito bem com ela”. Como se eu não tivesse sido obrigada a lidar com tudo isso desde que abri os olhos pela primeira vez. Vocês vem me dizer que eu sou “sinônimo de superação” ou “que eu sou mais inteligente que qualquer outras pessoa com deficiência por ter ensino superior” e não possuem o mínimo de desconfiômetro do quanto estes ~elogios~ são discriminatórios e capacitistas. Vocês são péssimos ao falar de cotas para deficientes quando dizem que eu estou “roubando a vaga na empresa que pode ser de uma pessoa com deficiência mais severa”. É meu direito também ocupar este espaço. Vocês eram maus profissionais, professores de educação física, quando pediam exaustivamente que eu ficasse sentada nos bancos “para não atrapalhar o jogo dos coleguinhas”.

VOCÊS SÃO HORRÍVEIS QUANDO DIZEM QUE NÃO SOFRO MAIS PRECONCEITO!

Pois eu saibam de uma coisa: eu sofro o pior preconceito que pode existir TODOS os dias. Porque ele é silencioso. Acontece quando vocês, queridos, surgem com esses comentários ridículos. Quando desvalidam meus argumentos, quando dizem que “estou exagerando/ é coisa da minha cabeça/ vejo preconceito em tudo”. É um olhar de cima a baixo em TODA a fila preferencial. É a cada olhar fuzilador ao passar pela catraca do ônibus com o cartão de gratuidade. A cada NÃO sem justificativa do mercado de trabalho já que “vagas para PCD são só fachada e que você faz todas as coisas que uma pessoa ~normal~ faz.” Ou quando alguém diz “você é ótima, mas na minha empresa não porque preciso de alguém com agilidade”. É quando você está sempre do lado de alguém, torce e vibra com o trabalho deste/ desta alguém que te “esquece” nos rolês mais deliciosos da vida porque – olhem como são “bonzinhos!” – preferiram me poupar. Ou quando sou assediada e termina-se o papo com um “você tem ~essas coisas~ nas pernas mesmo? Que pena… Tão linda”!

E sabem o que é pior? Estes amigos nunca vão assumir que foram preconceituosos ou porque estudam ou porque são “desconstruidões”. Ou porque sempre te trataram bem ou porque “preconceito é feio em pleno século XXI”. Vocês, meus amores, não sabem de uma vírgula do que passei ou batalhei para estar onde estou. Por patamar de igualdade, preciso fazer o dobro por ser mulher e três vezes mais por ter deficiência.

Vocês são hipócritas.

Mas podem melhorar.

VOCÊS VÃO TER QUE ME ENGOLIR, já dizia Zagallo. Vou estar em todos os lugares que a sociedade diz não ser adequado. Vou gritar quando ver injustiça e fazer valer meus posicionamentos.

Mas isso tudo me deixa extremamente tranquila e forte. Vou fazer do mundo um lugar melhor para as pessoas com deficiência vão estar no planeta! Que onde eu sofri, se torne harmônico para eles. Que espaços em que fiz/faço/farei resistência, ele ocupem de forma comunal. E você, “pessoa normal”, tem a tarefa de calar sua própria boca, modos e intenções. Quem sabe da nossa opressão somos nós, deficientes. O MUNDO É NOSSO E VAI SER CADA VEZ MAIS! Que este texto seja soprado no universo.

VAI PLANETA!

Edit: Acredito na licença poética dos sentimentos. Vou proteger os erros de português.


Manoella Back é jornalista, especialista em Cultura & Literatura, aquariana-louca-da-astrologia, fã de Harry Potter, samba, teatro, cerveja e MPB. Luta por um mundo melhor por meio da justiça, direitos humanos e promoção da igualdade.

A postagem original do texto está aqui.

 

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2 comentários em “Qual é a medida da deficiência?

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