De novo? Sério isso?

Se você tem algum tipo de deficiência física onde necessita de acessibilidade nos espaços, certamente já fez esta pergunta ao encontrar algum lugar sem adaptações necessárias para te receber. Talvez tenha dito algo semelhante enquanto navegava nas redes sociais e se deparou com uma postagem ou vídeo de alguém com deficiência comentando sobre suas dificuldades em espaços públicos/mobilidade urbana. Pois bem, sinto te informar, mas esse texto também é sobre este tipo de experiência. Portanto, sinta-se a vontade para dizer: aff, sério isso?

Sim, sério. Aliás, a seriedade no assunto às vezes acaba em riso quando nos deparamos com a criatividade de algumas pessoas ou empresas em adaptar (ou melhor improvisar) os lugares para nos receber. São situações em que nos perguntamos intimamente:

Não teve ninguém para dizer que isso está errado?

Bom, a ABNT já estabeleceu normas que regulamentam e orientam os profissionais responsáveis pelas construções de espaços destinados à pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, porém nem sempre são conhecidos ou seguidos de modo apropriado. Um bom exemplo disso são os vasos com o famoso buraco frontal que costumamos encontrar nos shoppings e em alguns lugares. Este vaso não é o recomendado, pois reserva-se ao uso em HOSPITAIS, porém acredito que alguns engenheiros ou arquitetos desconheçam este “pequeno” detalhe. Na imagem abaixo, extraída da ABNT (um pdf que você pode baixar aqui) podemos ver as instruções para fazer um banheiro:

Descrição: imagem com dois desenhos de banheiros adaptados para pessoas com deficiência. Do lado esquerdo mostra o vaso de frente, o lado direito mostra o vaso de lado. Ambos estão com as medidas de todos os itens do banheiro.

Eu ando com bonde

Ludmila, na época MC Beyonce, já dizia essa preciosidade da música brasileira: “Não olha pro lado que tá passando é o bonde”. Se não conhece, clica aqui e afasta os móveis para dançar até chão. Pode ir lá, eu te espero para continuar o texto.

Descrição: Foto em preto e branco de um grupo de mulheres. Elas estão em fila como se fossem entrar na passarela, na frente está uma cadeirante com prótese na perna e atrás dela, no lado esquerdo, estão as outras mulheres. Todas estão olhando para baixo e algumas estão usando lingerie.

Voltando nosso papo, essa falta de acessibilidade adequada nos espaços, por vezes prejudica não apenas nosso ir e vir, como também a possibilidade de divertirmos com nossos acompanhantes. É muito comum, cadeirantes (vou limitar a este tipo de deficiência, pois é meu caso) saírem com pessoas que muitas vezes não possuem deficiência. São familiares, amigos e, em alguns casos, paqueras/namorados(as)/maridos/esposas.

Saí esses dias com minha irmã e com minha sobrinha para assistirmos “Guerra Civil” no cinema de um shopping de Belo Horizonte chamado Boulevard. Normalmente, frequento outro shopping, chamado Estação, pois o espaço destinado para cadeirantes no cinema é um dos melhores que já encontrei. Porém, o horário não era bom e resolvemos tentar neste outro.

O visual do lugar chamou nossa atenção, tudo muito grandioso, bonito e com várias opções de combos para o filme. Como estávamos ansiosas tudo nos agradou, até o momento em que entramos na sala e vimos o espaço separado. Infelizmente, não haviam cadeiras para acompanhantes ao lado do espaço para cadeirantes, tivemos que solicitar cadeiras de escritório para que ambas pudessem ficar ao meu lado durante a exibição. Afinal, como disse antes “eu ando com bonde” e ele não se separa.

Claro que quando você sai com pessoas queridas, tudo vira farra. Rimos da situação, debochamos bastante, mas o incômodo ficou ali. Ora, como assim não tem cadeiras para acompanhantes. O que pensam de nós, afinal?

Um exercício diário

Já sabemos a resposta desta pergunta, também temos conhecimento do quão demorado é o processo de aprendizado social. Ninguém espera uma mudança drástica de uma hora para outra, mas há dias em que você simplesmente esquece disto e dá aquela suspirada, seguida de um “aff”.

Descrição: Imagem com fundo cinza de uma mulher revirando os olhos e pendendo a cabeça para frente como se estivesse entediada. Ela tem cabelos, olhos pretos e usa uma blusa na cor preta. Usa batom vermelho nos lábios.

Acredito que as pessoas com deficiência tem liberdade para viverem como acharem melhor, entretanto sem perceber nossa existência acaba se atrelando a um posicionamento político. No momento em que você orienta um gerente de restaurante ou o diretor de uma escola sobre acessibilidade ou inclusão já está agindo em favor da sua causa e de outras pessoas, uma vez que uma sociedade diversa abrange a todos.

Todos os dias precisamos nos posicionar, mesmo contra nossa vontade. Aqui, não pretendo te forçar um ativismo, de modo algum, mas um simples compartilhar de post, um vídeo ou uma postagem que fazemos é uma semente lançada. Minha jornada começou assim e venho tentando fazer alguma coisa para fazer as pessoas sem deficiência compreenderem minha vida e entenderem a necessidade de fazerem parte deste caminho.

Por isso, precisamos ocupar os espaços, mesmo aqueles sem adaptação. As pessoas precisam nos ver para “lembrarem” de nós, quantas vezes ouvi de amigos “nossa, depois que te conheci passei a reparar se os lugares são bons para você”. Bom, infelizmente não dá para conhecer todo mundo em Belo Horizonte (quer dizer, dá sim, me esqueci que BH é um ovo) então vamos aproveitar as oportunidades e sairmos de casa. Vá aos lugares, mostre sua vibe, oriente se necessário e disbugue tantos quantos conseguir.

Que consigamos mudar o tom da pergunta acima para

“ir ao lugar tal de novo? Só se for agora!”

Imagem by: https://www.instagram.com/p/BVE3EX7BhNS/?taken-by=elkelale

 

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