Certo dia já não conseguia dormir direito. No começo imaginei ser cansaço demais, excesso de preocupações do trabalho refletindo no meu organismo. A noite foi trocada pelo dia e as tarefas não eram executadas com a mesma intensidade. Neste ponto meu alerta ligou, como uma ficha caindo admiti o meu problema: era ansiedade. Lá vamos nós para mais uma terapia.

Sempre me considerei ansiosa, mas acreditava conseguir conviver com ela, poderia até me ver como alguém “normal”. Contudo, minhas ações foram adquirindo novos significados e como um estalo me vi como uma pessoa super ansiosa. Foi muito estranho perceber isso, porém ao mesmo tempo foi libertador notar o que motivava minhas atitudes para então poder iniciar um processo de mudança.
Sou uma pessoa que ama pensar. Pode parecer estranho dizer isso, mas reflexões são um tipo de lazer para mim. Amo aprender sobre algo, ler e relacionar as informações. O lado negativo disso tudo é o excesso, como tudo na vida, é claro. Há momentos em que gostaria de desligar minha mente um pouco e não pensar em nada. Porém uma das características da ansiedade é este turbilhão de pensamentos, em sua maioria negativos.
Existem muitos gatilhos para acioná-los e isso depende muito da sua história. No meu caso, muito do que me transtorna hoje foi gerado em minha adolescência quando tive minha primeira e mais forte depressão. Apesar dos anos e tratamentos passados ainda permanece em mim (e nos meus dias) aquele monstrinho sussurrando em meu ouvido todas as falhas e desacertos de minha caminhada.
Lidar com ansiedade não é uma tarefa fácil, contudo também não é impossível. É preciso paciência e, apesar da ironia disso é necessário compreender que esta também é um exercício. Sabe, todo mundo tem suas batalhas pessoais. Seus dias de chuva ou tempestades. Por isso, não precisamos passar por estas fases sozinhos.
A terapia me auxilia a identificar o que me faz mal e como meus pensamentos são “mentirosos” às vezes. Quando me vejo diante de um desafio em que racionalmente sou capaz de lidar e minha mente diz o contrário, preciso respirar, dizer para mim “Claro que consigo fazer isso. Já fiz várias vezes e me dei bem em todas elas.” e me jogar. Guimarães Rosa, escritor mineiro, costumava dizer:
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem
É preciso muita coragem para admitir que há algo errado em você, mas principalmente é preciso se amar demais para permitir a mudança. Desistir de você é o primeiro passo para vida deixar de ter significado. Por isso, sugiro cara leitora (ou leitor) que não desista. Respira fundo, busque ajuda e cuide de sua saúde mental.