Nós também sangramos

Muito se fala sobre a sexualidade das pessoas com deficiência, sempre ressaltando as dificuldades em encontrar parceiros ou em alternativas para tornar o ato sexual mais viável e prazeroso. Nesse campo, para as mulheres com deficiência o assunto se restringe aos seus corpos e como lidar com a normatização social sem perder sua autoestima.

Entretanto, sexualidade não se trata apenas de sexo. Por esse motivo, não podemos falar das mulheres sem abordar questões relacionadas ao corpo feminino, como por exemplo a menstruação.

Sim, nós sangramos

Achei esse desenho tão lindo que resolvi colocar. Espero que não achem ofensivo. 😀
Descrição: Desenho de um útero pingando gotas vermelhas com um fundo amarelo com florzinhas rosas e folhinhas verdes

O ciclo menstrual é um processo natural à maioria das mulheres, que se repete entre 21 e 35 dias (em alguns casos). Estima-se que uma mulher menstrue cerca de 400 vezes durante sua vida (!) e perca cerca de 100 ml de sangue entre dois ou oito dias a cada mês. Durante o período muita coisa acontece no corpo, cólicas, seios doloridos, as emoções mais latentes, a pele costuma ficar mais oleosa somada a atenção constante para verificar se a roupa ficou manchada.

Como não haveria de ser diferente, passamos por esses dias lidando com nossas rotinas normalmente.  (like a divas ❤ )

Há mulheres que fazem o uso de anticoncepcionais para regularem seus ciclos, além de ser mais uma opção para prevenção da gravidez. Outras resolveram utilizar aplicativos que auxiliam conferir a temperatura do corpo e assim acompanharem as prováveis alterações hormonais, evitando a ingestão de hormônio como prevenção a trombose.

Esse período é presente na vida de muitas mulheres a partir dos 10/11 anos de idade e, ainda assim carregado de questionamentos, principalmente para mulheres com deficiência. Entre eles, o mais presente é lidar com a naturalidade do ciclo, pois comumente vemos a mulher com deficiência, a qual usarei a sigla MCD para simplificar, sendo questionada nas discussões sobre a eficiência dos corpos, uma vez que é incapaz de desempenhar as funções típicas (e socialmente esperadas) do corpo feminino como transar, engravidar, amamentar dentre outros. Portanto, como justificar a presença de um processo natural em um corpo deficiente? Ignorando seu acontecimento.

Desse modo, como resultado deste capacitismo vemos muitos consultórios de ginecologistas despreparados tanto em acessibilidade física quanto em atitudinal para receber a MCD. Muitas reclamam a ausência de equipamentos que permitam realizar exames considerados de rotina para as mulheres. Restando a criatividade encontrar mecanismos que viabilizem tratamentos ou deixando de lado o cuidado com o corpo.

Descrição da imagem: close em mãos segurando um coletor rosa simulando guardar em um saquinho de pano vermelho.

Outro ponto importante a destacar é a impossibilidade de se usar inovações tecnológicas e mais saudáveis para seu corpo como, por exemplo o copinho. Ora, em alguns casos de mulheres cadeirantes com a força física comprometida o uso do coletor fica mais difícil.

Na década de 90, os absorventes não eram diferenciados como hoje, logo a maioria era um grosso pedaço de “algodão” que cobria desde a vagina na parte da frente até a metade da bunda atrás. Para as mulheres “com corpo” (como se dizia) ele ficava escondido, mas para as magras como eu era um constante constrangimento quando ficávamos menstruadas. Me recordo de uma colega de sala me zoando quando fiz a transferência da cadeira de rodas para a cadeira normal e virei a bunda para seu lado. Fiquei tão chateada com aquilo que nunca mais tive coragem de alternar as cadeiras em sua frente. Hoje já temos mais opções, mas é importante tocar nesses assuntos, pois esses detalhes não são levados em consideração nas discussões sobre a saúde feminina.

É necessário pensar em soluções viáveis e confortáveis para o nosso corpo, de modo que consiga atender nossas diferenças. Seria pensar em texturas, modos de prender o absorvente na roupa para que ele não se solte quando tirarmos ao usar o banheiro, medicamentos menos agressivos para ajudar a regular ou interromper o ciclo. Pensar formar de combater as cólicas, uma vez que há doenças em que o uso de relaxantes musculares é fatal (como a minha) e ficamos sem opção para lidar com a dor crônica. Muitos são os pormenores que um simples assunto como menstruação significa para nós.

O corpo que pode parecer estranho, reage do mesmo modo que de tantos outros. Temos TPM, cólicas, variações de humor, seios inchados e várias outras reações comuns ao período menstrual. A verdade é que nós sangramos e a única coisa que esperamos é termos o direito de cuidar do nosso corpo da forma que escolhermos e julgamos ser melhor.

E você? Como lida com seu ciclo?

Fonte: http://grupovioles.blogspot.com.br/2015/12/o-significado-da-menstruacao-passa-por.html

Fonte imagens: Google

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3 comentários em “Nós também sangramos

  1. Também gostaria que se falasse sobre a questão da menstruação em mulheres deficientes intelectuais. Já lidei com casos de mães de mulheres deficientes que reclamam que as filhas não conseguem aprender a colocar o absorvente e troca-los nos momentos certos. Elas queriam que as filhas tivessem mais independência neste aspecto.

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  2. Interessante botar isso para discussão! Vejamos, por exemplo, três casos em que a menstruação pode ser algo incômodo para mulheres com deficiência:

    1) Cadeirantes: Como se já não bastasse o incômodo de nem sempre achar um banheiro adaptado que dê para usar – e a pessoa, não raro, ter de aprender a ”guardar” a necessidade fisiológica até encontrar um banheiro adaptado (o que favorece muuuito, a longo prazo, doenças do sistema excretor/urinário), ainda vem a necessidade de, em certos dias do mês, a pessoa ter de trocar o absorvente de tantas em tantas horas – ou seja, ir mais vezes ao banheiro. E se o absorvente ficar ”cheio”, mas não tiver, no momento, onde trocá-lo??? (Considerem principalmente aquelas mulheres que tenham limitações motoras nas mãos também… o que torna uma verdadeira ”arte” trocar o absorvente em banheiro público sem causar sujeira – digo isso no sentido de, acidentalmente, pingar sangue de seu corpo enquanto realiza a troca do absorvente.)

    2) Mulheres que perderam a visão e ficaram totalmente cegas: até que elas descubram por si próprias estratégias de como saber se, acidentalmente, sujaram a roupa de forma visível ou não, com certeza vai ”bater”, com grande frequência, aquela sensação de insegurança – e de constrangimento caso aconteça algum vazamento…  

    3) Diversas deficiências que, por si sós, já causam inúmeros desconfortos no corpo. Muitas mulheres, independente de terem deficiência ou não, costumam ter TPM e incômodos diversos por causa da menstruação. Imaginem uma mulher com necessidades especiais, tendo de suportar os incômodos específicos de sua deficiência MAIS possíveis incômodos/sintomas de menstruação? Seria uma amolação dupla, para uma pessoa já tão sobrecarregada de desafios, barreiras, dificuldades e desconfortos, não é mesmo? 😉

    Claro que, se a mulher com deficiência (tanto as que mencionei acima quanto em outros casos) tiver destreza para lidar com isso, ok!!! Mas se sentem inseguras em relação a isso, não vejo nada de mais discutir métodos com o médico, para interromperem a menstruação. A escolha é pessoal, e depende de cada mulher, hehe! =)

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