O texto abaixo foi escrito pelo Pe. Fábio de Melo sobre envelhecimento, mas pode facilmente ser compreendido e interpretado também para nossa realidade de pessoa com deficiência. Portanto, boa leitura.
Por Pe. Fábio de Melo
“Você ter utilidade pra alguém é uma coisa muito cansativa. Tá certo, realiza. Humanamente falando é interessante você saber fazer as coisas, mas eu acredito que a utilidade é um território muito perigoso, porque muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele tá interessado naquilo que a gente faz por ele.
E é por isso que a velhice é esse tempo que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é um momento que a gente purifica, né? É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama / só vai ficar até o fim, aquele que depois da nossa utilidade, descobrir o nosso significado.

Por isso eu sempre peço a Deus, sabe? Sempre faço à Ele, a oração D’Ele. Poder envelhecer ao lado das pessoas que me amem. Aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade, né. De ser inútil, mas ao mesmo tempo, sem perder o valor.
Quando eu viver aquela fase na vida: ‘põe o Pe. Fábio no sol…. Tira o Pe. Fábio do sol…’ Aí eu peço à Deus sempre a graça de ter quem me coloque ao sol, mas sobretudo, alguém que venha me tirar depois.
Alguém que saiba acolher a minha inutilidade. Alguém que olhe pra mim assim, que sabe / que possa saber que eu não sirvo pra muita coisa, mas que eu continuo tendo meu valor.
Porque a vida é assim, minha gente, fique esperto, viu? Se você quiser saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade. Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo: quem nessa vida já pode ficar inútil pra você, sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora? É assim que descobrimos o significado do amor.
Só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim. Por isso eu digo: feliz aquele que tem ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: ‘você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você’. ”
Legal o texto. E, se formos analisar bem, ele é válido não só para pessoas idosas… mas também para pessoas com deficiências mais limitantes (independentemente da idade) – ou mesmo que nem sejam tão limitantes assim, mas que deem essa impressão para as pessoas ”ditas normais” (oi??).
Explico: muitas vezes, tais pessoas são consideradas erroneamente como incapazes e que necessitam de cuidados – e justamente por isso vem a famigerada discriminação. Enquanto uma PcD não consegue PROVAR e CONVENCER que é alguém útil, que pode contribuir para um determinado grupo ou sociedade, acaba sendo discriminada na escola, faculdade, trabalho, círculo de amigos.
O mesmo acontece quando uma pessoa, que até então era ”clinicamente normal” de acordo com a medicina, passa a manifestar os sintomas de uma doença ou sofre um acidente… Os ”amigos” somem, muitos parentes passam a ignorar…
Ou seja, infelizmente, parece que as relações humanas estão mais pautadas na ”utilidade” de uma pessoa, do que em relação ao que a pessoa tem a dizer, se ela é legal, se é divertida, se sabe bater um ”papo cabeça”, se é uma companhia bacana… Enfim, é isso!
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