Solidão da pessoa com deficiência

Dia 12 de junho, dia dos namorados.

Timeline invadida por fotos seguidas de declarações de amor. Não importa o tempo do relacionamento, vale apenas o registro. Presentes, encontros, agradecimentos e toda forma legítima de deixar claro aos quatro cantos da tela o quão feliz e aventurado é aquele que possui um amor.

É claro que os solteiros buscam um “contra ataque” a tamanha onda de afeição. Alguns buscam todos os argumentos necessários para explicar por que ser solteiro é melhor, outros questionam a veracidade dos amores declarados e assim seguimos acompanhando esse lindo dia de amor.

Para nós, pessoas com deficiência, solteiros ou não esta data pode também trazer três realidades incômodas: a hipervalorização do parceiro (se este for sem deficiência), obrigação do amor igual e a solidão.

Hipervalorização 

Imagine o cenário: um casal resolve sair para dar uma volta no shopping. Trocam carinhos, beijos, sorriem e brincam. Estão apaixonados. Normal, certo? Acrescente uma pessoa com deficiência e de repente a cena se transforma em algo fantástico. É como se houvesse uma aura de “amor real” na situação, pois “só alguém que AMA MUITO É CAPAZ DE PERMANECER AO LADO DE ALGUÉM COM DEFICIÊNCIA” assim mesmo, com caixa alta, pois para alguns é algo difícil de acontecer e portanto merece destaque.

Algumas pessoas com deficiência não se incomodam com isso, em alguns casos reforçam a ideia do “parceiro bondoso e santificado” a qual deve todo amor recebido. A pessoa fica com tanto medo de perder essa relação que tudo faz por ela. Uma porta aberta ao relacionamento abusivo.

Entretanto alguns casais não gostam desse espetáculo, querem apenas viver sua relação como ela é: normal. Esses enfrentam a dificuldade de expor o seu sentimento, uma vez que isso foi tão hipervalorizado que qualquer palavra ou ação já recebe holofotes.

Obrigação do amor igual

É muito comum as pessoas sem deficiência ao observar uma PCD (pessoa com deficiência) solteira sugerir a esta uma relação com outra PCD.

Não há nada de errado na relação entre iguais (aqui considero iguais pessoas que tenham deficiência, não importando se estas são iguais), aliás existem muitos casais que o são e são muito felizes. O problema está em considerar que esta é a única opção de uma PCD.

O amor não precisa acontecer somente entre os iguais. O amor acontece porque acontece. Simples. Essa obrigatoriedade é uma das causadoras da solidão da pessoa com deficiência.

Solidão

É impressionante o peso que a deficiência tem em relacionamentos. Seja qual for a relação. Não basta trazer em si uma boa personalidade, inteligência, senso de humor, bom gosto ou qualquer outra característica importante para se considerar alguém interessante. Se este (ou esta) estiver em uma cadeira de rodas, por exemplo, deixou de ser uma opção de paquera. É como se fosse uma escala de pontuação. Seja 100 em todos os pré-requisitos, mas se apresentar menos de 10 em “eficiência” física anula todos os pontos.

Por esse motivo constantemente vemos muitos reclamando sua solidão e desacreditando que um dia serão pessoas dignas de receber o amor de alguém. Tentam de todas as formas serem aceitos, tentam os aplicativos de relacionamentos, salas de bate papo e toda e qualquer estratégia para se aproximar das pessoas. Já vi críticas de PCDs em relação a isso, dizendo que estes não possuem mais nada a fazer senão o desejo de namorar. Ocorre que de tanto tentar essas pessoas começam a negociar e diminuir seus valores. Uma gota de atenção já basta.

Para mulher com deficiência, então, a solidão traz em si o peso de “não ser mulher”.

_ Nossa você é linda… Adoraria te conhecer, vamos sair?

_ Obrigada, você viu que uso cadeira?

_ Não… É mesmo? Ah… mas o importante é ser feliz né? Aqui, você é muito legal. Vou precisar sair agora, mas a gente se fala.

Nos sentimos incompletas. Mulheres lindas começam a questionar sua aparência, culpam-se por não serem “normais”. Perdem sua auto estima, não se sentem capazes de fazer alguém feliz. Em alguns casos perdem inclusive sua identidade.

A solidão transtorna, amig@s. Deprime.

A vida segue (?)

É preciso mudar o olhar para as pessoas com deficiência. Nós somos resultado de nossas experiências e podemos oferecer bons momentos como qualquer outro.

Aquela moça com cadeira de rodas pode ser uma excelente companhia para um sábado a noite, o rapaz com baixa visão pode ser incrivelmente engraçado e te valorizar mais do que as outras pessoas que conheceu.

Porém não se engane, não desejamos que ignore nossas diferenças ou que se considere benevolente em se aproximar de nós, apenas que não utilize nossa deficiência como desculpa para o seu preconceito. Se isso não for possível, então permaneça distante. É melhor viver sozinho do que mal acompanhado.

Se tiver algum amigo com deficiência nessas situações, não desvalorize as suas tentativas. Nada de:

_Ah, você conheceu esse cara na internet? (cara de deboche)

_ Nossa, mas você só usa a internet pra conhecer as pessoas. Por isso não dá certo.

_Já pensou em fazer outra coisa?

_Quando parar de procurar, vai aparecer alguém.

_Eu acho que você devia ser menos exigente.

_Você precisa sair menos.

_Você precisa sair mais.

_Você devia agradecer que fulano (a) tá namorando com você…

Se você não tem nada melhor a dizer, permaneça calado e apenas ouça. Seja uma boa amizade e não pese em seus julgamentos. É preciso compreender que a solidão da pessoa com deficiência é resultado de uma sociedade capacitista e preconceituosa. Esta já exerce muita pressão e opressão sobre nossos ombros com sua falta de acessibilidade em espaços públicos. É preciso construir um olhar mais humanizado para nossas questão abrindo mão do vitimismo e do heroísmo. Enxergar menos seus diagnósticos e mais o ser humano. Somente assim conseguiremos criar uma consciência nas pessoas capaz de fazê-las entender que somos iguais, apesar das diferenças.

 

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10 comentários em “Solidão da pessoa com deficiência

  1. Muito bom o texto, a reflexão também é muito valida! Também é importante pensar que esses aspectos não são regras, existem muitas pessoas que vivem relacionamentos com ou sem pessoas com deficiência como qualquer outro relacionamento.
    Acredito que trabalhar nossa auto estima é fundamental, minimizar o nosso próprio preconceito também. Mas entender que relacionamentos são complexos, muitas vezes confusos e difíceis, independente de existir deficiência, é um passo fundamental para vivencialos e encarar as frustrações comuns em toda relação afetiva.
    Abraços.

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  2. Me indentifiei MT com o texto nesse momento to com isso solidão Fasso críticas sobre mim msm tipo tenho q fika mais bonito se eu não tivesse numa cadeira de toda talvez seria diferente entre outras. Mais nois mulheres pcd somos maravilhosas e lindas as vezes penso em td na minha vida vejo q Deus me capacita de modo q ele sabe q eu vou lutar então to aqui cheia de vondade de viver fazer oque eu quero n crítico minha beleza qnd algo q me deixa pra baixo eu digo eu poso eu quero eu consigo me olho no espelho e digo vc e linda etc luto elos meus sonhos eu acho q a Gent tds nois deveríamos fazer mais pôster na Internet sla mostra mais q não importa nossa situação a Gent e igual a qualquer outro e talvez mais feliz doque uma pessoa normal….Eu to querendo fazer mais amizades com pessoas pcd

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  3. Oi Fatine lendo esse texto super me identifiquei, pois há 15 anos tento encontrar alguém via internet estou com 40 e já quase desistindo. Cansei da solidão de relacionamentos que não saem do virtual pelo fato de os homens não quererem me assumir diante dos seus convívios sociais, sei que é covardia mas o exercício de praticar auto estima está cada vez mais difícil, sem hipocrisia!

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